Depois de meses de tensão, a Rússia invadiu a Ucrânia, nesta quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022.
Mísseis lançados sobre vários alvos ucranianos, entrada de tropas de Moscovo pelas fronteiras com a Rússia e a Bielorrússia e entrada pelas costas do Mar Negro, a sudoeste, e do Mar Azov, a nordeste. Assim começou a invasão da Rússia à Ucrânia, naquele que é já descrito como o maior ataque a um estado do continente europeu desde a Segunda Guerra Mundial (1939-45).
As forças ucranianas combateram os invasores russos um pouco por todo o país após o ataque dirigido a partir do Kremlin ter chegado por via terrestre, marítima e aérea e a Rússia parece não estar disposta a levantar bandeira de paz. Para o presidente russo, o objetivo é desmilitarizar e “desnazificar” a Ucrânia.
Durante a tarde de quinta-feira, Vladimir Putin disse que o seu país “não tinha outra maneira” de se defender a não ser lançar um ataque na Ucrânia, confirmando que o Exército russo estava em processo de invasão daquele país vizinho. “O que está a acontecer agora é uma medida coerciva. Porque não temos outra forma de fazer o contrário”, disse.
Já o presidente ucraniano disse ser possível ouvir o som de uma nova Cortina de Ferro a cair enquanto as forças de Moscovo avançam pelo país. Volodymyr Zelenskiy, alertou mesmo que outros países podem ter o mesmo destino.
Tanto a União Europeia, como a NATO e o G7 já condenaram a ação russa, falando em mais sanções e instituições como a OMS e o FMI já reagiram. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou para o risco de a guerra na Ucrânia provocar uma catástrofe humanitária na Europa, salientando que o acesso aos serviços de saúde “devem ser sempre protegidos”. “Qualquer nova escalada pode resultar numa catástrofe humanitária na Europa, incluindo um número significativo de vítimas e mais danos nos sistemas de saúde já frágeis”.
A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, afirmou também que a invasão russa da Ucrânia representa “um importante risco económico para a região e para o mundo” e pode afetar a recuperação económica.
Em Portugal, o Conselho Superior de Defesa Nacional deu parecer favorável, por unanimidade, a propostas do governo para a eventual participação de meios militares portugueses em forças de prontidão da NATO.
António Costa disse que Portugal dispõe de uma força militar que será disponibilizada para missões de dissuasão, caso seja essa a decisão do Conselho do Atlântico Norte, mas afastou uma intervenção da NATO na Ucrânia. O primeiro-ministro garantiu em São Bento que “a NATO não intervirá nem agirá na Ucrânia”.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, alertou que os países ocidentais e membros da NATO têm de estar preparados “para todos os cenários”, trabalhando ao mesmo tempo no plano da defesa e no das sanções económicas e financeiras.
Na capital ucraniana, o embaixador de Portugal “foi o penúltimo a sair de Kiev” após a ofensiva militar russa, revelou p Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, acrescentando que ficaram no terreno oficiais para contactar e encaminhar os portugueses na Ucrânia. Portugal está a acompanhar “a situação dos cidadãos portugueses, na grande maioria com dupla nacionalidade, cerca de 200, que ou já saíram ou estão a sair do território ucraniano”, afirmou.
António Costa tinha já dito que todos os ucranianos que queiram vir para Portugal serão “bem-vindos”, afirmando também que as embaixadas daquela região têm instruções para agilizar a emissão de vistos.
Já da parte da Alemanha, o chanceler advertiu o presidente russo para não “subestimar” a determinação da NATO em defender os seus membros e exortou-o a retirar as tropas da Ucrânia e a revogar o reconhecimento da independência de Donetsk e Lugansk.
Olaf Scholz reiterou que tanto a Europa como os “aliados americanos” estão determinados a “impedir” que este conflito se propague a outras partes do continente, aludindo aparentemente aos Estados Bálticos (Letónia, Estónia e Lituânia), Polónia, Eslováquia e Roménia.
Durante o dia, o Exército ucraniano anunciou que estavam em curso combates pelo controlo do aeroporto militar Antonov, após ataque de forças russas. Agora, as Forças Armadas russas já controlam o aeroporto militar Antonov, em Gostomel, nos arredores de Kiev, depois de uma violenta operação de ataque com helicópteros.
“A luta está em curso no aeroporto de Gostomel”, localizado poucos quilómetros a noroeste de Kiev, anunciou Valery Zaloujny.
Mykhailo Podolyak, conselheiro do Presidente ucraniano anunciou também que a Ucrânia perdeu o controlo sobre a central nuclear de Chernobyl, depois de uma batalha feroz para tentar repelir as forças militares russas.
O conselheiro de Volodymyr Zelenskyy disse que não se conhece em que condições estão, depois dos combates, as instalações da central, onde há um abrigo de proteção e o armazenamento de resíduos nucleares e acusou a Rússia de poder usar a central para lançar provocações e descreveu a situação como “uma das ameaças mais graves à Europa”.
Volodymyr Zelensky apelou aos líderes mundiais para que ajudem à defesa da Ucrânia e protejam o espaço aéreo dos ataques russos, sublinhando que a Rússia desencadeou uma guerra não só com a Ucrânia, mas com o mundo democrático”.
Reunidos num Conselho Europeu convocado de urgência, os líderes dos 27 já adotaram conclusões, nas quais apelam à Comissão Europeia para avançar com “medidas de contingência” sobre fornecimento energético da Rússia, e com “rápida preparação de novo pacote de sanções” que abranjam também a Bielorrússia, por permitir a invasão russa da Ucrânia.
O presidente norte-americano, Joe Biden, também anunciou que Estados Unidos e aliados vão reforçar sanções à Rússia e que o dispositivo da NATO na Alemanha será reforçado com tropas norte-americanas, após a invasão russa da Ucrânia.
Biden acusou a Rússia de ter realizado um “ataque premeditado” e “brutal ao povo da Ucrânia”, de ter “planeado durante meses, durante semanas” e de recusar todas as tentativas de diplomacia que lhe foram apresentadas pelo Ocidente.
“Putin é o agressor, Putin começou esta guerra e agora vai sofrer as consequências”, assegurou o presidente norte-americano, anunciando ainda que vão “congelar o financiamento à Rússia”, sancionar empresas de tecnologia e oligarcas russos, e que as sanções visarão mais quatro bancos russos que não foram incluídos nas primeiras sanções – incluindo o VTB, um grande banco do país – e o corte de exportações de alta tecnologia.
Biden referiu ainda que seriam destacadas mais tropas em resposta à invasão russa da Ucrânia, mas garantiu que estas não seriam enviadas para o país. “As nossas forças não estão, nem estarão, envolvidas no conflito com a Rússia na Ucrânia”, reiterou.
O presidente salientou a importância de os EUA e os seus aliados fazerem frente a esta agressão, argumentando que as manobras militares de Putin na Ucrânia ameaçam a liberdade e assegurando que defenderá “cada centímetro do território da NATO”.
Estes soldados norte-americanos somam-se aos 5.000 soldados já enviados pelo Presidente Joe Biden para a Alemanha e para o flanco leste da NATO.
Perante os avanços da Rússia, Volodymyr Zelensky decretou hoje a mobilização geral da população sujeita a “recrutamento militar e reservistas”.
Segundo o decreto publicado no ‘site’ da presidência ucraniana, a medida abrange todas as pessoas sujeitas a “recrutamento militar e reservistas” e será aplicada dentro de 90 dias em todas as regiões da Ucrânia.
Já a ONU anunciou a libertação de 20 milhões de dólares em ajuda humanitária de emergência à Ucrânia e países vizinhos, através do secretário-geral da organização, António Guterres, que apelou novamente ao Presidente russo, Vladimir Putin, que pare a ofensiva militar.
Após o primeiro dia da intervenção militar russa na Ucrânia, ainda é difícil monitorizar os movimentos populacionais, mas, segundo dados do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), pelo menos 100.000 pessoas já abandonaram as suas casas na Ucrânia devido à invasão iniciada hoje pela Rússia e vários milhares cruzaram as fronteiras rumo a países vizinhos.