Mais de 8 em cada 10 casos de cancro do ovário são descobertos (82%) em fases avançadas.
A Associação Movimento Cancro do Ovário e outros Cancros Ginecológicos (MOG), a Associação Evita (Cancro Hereditário) e a Associação de Enfermagem Oncológica Portuguesa (AEOP) uniram-se para lançar o guia “Cancro do Ovário, Como lidar com a doença?”que visa responder às principais dúvidas sobre o cancro do ovário, fomentar a partilha de experiências e sensibilizar para a importância do diagnóstico precoce, capacitando as mulheres com cancro do ovário e seus familiares e contribuindo para aumentar a literacia em saúde.
O cancro do ovário afeta, principalmente, mulheres na pré e pós-menopausa, com 80% dos casos diagnosticados em mulheres acima dos 40 anos de idade.
Por ano, em Portugal, são diagnosticados cerca de 600 casos. É dos cancros mais difíceis de diagnosticar, sobretudo em estadios iniciais, sendo vulgarmente conhecido como “assassino silencioso” devido à ausência de sintomas.
Em Portugal mais de 400 mulheres portuguesas morrem por ano com cancro do ovário. E as que conseguem sobreviver têm de ser submetidas a vários tratamentos que comprometem a qualidade de vida.
“O cancro do ovário é uma doença pouco conhecida e ainda hoje é uma doença difícil de diagnosticar precocemente. Daí a extrema importância de a mulher conhecer bem o seu corpo e de estar atenta a certas alterações. O guia fala nesses sintomas, como sensação de inchaço, alterações do trânsito intestinal, cansaço, falta de apetite, entre outros, que podem parecer queixas comuns, mas que, de qualquer forma, é melhor confirmar com uma consulta médica. Outra informação pertinente neste guia é a chamada de atenção da importância da história familiar de cancro, pois o cancro do ovário pode surgir no contexto de uma síndrome de cancro de mama/ovário por herança de um gene alterado. O cancro hereditário do ovário é prevenível, quando a mulher tem conhecimento da sua predisposição genética, que se confirma com um teste genético”, diz Tamara Milagre, presidente da Associação Evita (Cancro Hereditário), uma das organizações por trás do lançamento do manual.
“O cancro do ovário, ao contrário de outros tipos de cancros, não apresenta um rastreio que permita a sua deteção numa fase precoce, dado não existirem ainda exames específicos para a sua prevenção”, acrescenta Sónia Ferreira, enfermeira especialista.
“Sabe-se que, este tipo de cancro está relacionado com a idade da mulher (acima dos 50 anos), fatores hormonais, ambientais e genéticos. Hoje em dia, sabe-se que o uso de anticoncecionais é considerado uma medida preventiva, reduzindo em 33% o risco de cancro do ovário”, refere.
“Outra das medidas preventivas, já conhecidas, prendem-se com a identificação de mulheres em risco de vir a desenvolver este cancro com base em estudos genéticos. À data de hoje, estes estudos são apenas oferecidos a familiares de doentes que tenham o diagnóstico de cancro e nas quais se tenha identificado uma mutação. Nas mulheres portadoras de mutações com risco aumentado podem ser oferecidas estratégias de vigilância mais apertada e/ou cirurgia profilática que consiste na remoção dos ovários”, indica ainda.
Cancro do ovário
Torna-se fundamental que a mulher tenha um acompanhamento anual por parte do seu ginecologista e esteja atenta a alguns sinais como:
- azia;
- dor abdominal e pélvica;
- sangramento vaginal;
- aumento de frequência urinária.
Ainda não existe consenso entre a comunidade médica quanto à idade em que os exames devem ser realizados, sabendo-se, no entanto, que muitas mulheres iniciam a vigilância ginecológica anual a partir dos 30 anos.
Quem está em risco?
O cancro do ovário afeta, principalmente, mulheres em pré-menopausa e pós-menopausa. O risco aumenta com:
- idade;
- obesidade;
- terapia hormonal após menopausa;
- história genética com familiar de 1ºgrau;
- nuliparidade;
- idade fértil tardia;
- menarca precoce;
- tabagismo;
- tratamento para a fertilidade;
- menopausa tardia;
- história pessoal ou familiar de cancro do endométrio, mama ou colo-rectal;
- obstipação e diarreia;
- sensação de cansaço extremo;
- abdómen estendido;
- dor abdominal ou pélvica.
Há esperança no tratamento do cancro do ovário?
“Sim, com a evolução da medicina e com a introdução de novos tratamentos mais eficazes, a esperança de vida com doentes com este tipo de cancro tem vindo a aumentar ao longo dos últimos anos”, responde a enfermeira Sónia Ferreira. “Nos estadios mais avançados, após a quimioterapia, incluem-se tratamentos de manutenção, com antiangiogénicos ou inibidores da PARP. Estes fármacos, sobretudo os inibidores da PARP, vieram melhorar o prognóstico da doença e qualidade de vida, dando assim uma esperança a estas doentes”, afirma.