13.8 C
Oeiras Municipality
Ter 11 Fevereiro 2025
Inicio Opinião Mais Tempo para o Doente – Um Bom Desejo de Ano Novo!

Mais Tempo para o Doente – Um Bom Desejo de Ano Novo!

Há algumas frases lapidares, que não esquecemos e nos guiam na nossa vida profissional. Como Médico, nunca esqueci aquela de William Osler: Se ouvirmos o doente, ele diz-nos o diagnóstico”. É uma máxima curiosa. Sugere que o doente joga com o Médico uma espécie de charada, em que a solução é o seu próprio diagnóstico, só encontrado com a audição atenta da sua mensagem encriptada.

Só ouve bem, e tem acesso a toda a informação, com capacidade para a descodificar, quem dá tempo ao outro, e lhe dá a importância de um igual. O tempo, é fundamental para uma relação médico-doente empática, que é uma condição determinante do exercício da medicina com humanidade.

O tempo que concedemos aos nossos doentes está ameaçado. A tecnologia dá-nos acesso ao conhecimento quase instantâneo, mas perturba-nos o olhar e o contacto físico. Às vezes, quase sem nos apercebermos, mostramos como estamos apressados. De soslaio, espreitamos o relógio e fazemos constantes interrupções no discurso do paciente, que deveria ser fluido, para ser completo. Esquecemos a parte não-verbal da comunicação, e estragamos tudo!

Querem tornar a relação médico-doente, património imaterial da humanidade. Acho que faz sentido fazê-lo, nestes tempos conturbados. Será uma forma de a preservar e de recordar o seu valor.

As máquinas terão tendência a substituir com vantagem, muito trabalho médico. Os relatórios dos exames de imagem ou de anatomia patológica, poderão ser feitos por computador, com maior precisão.

A cirurgia robótica irá crescer cada vez mais, no local ou até à distância.

Há alguns aspetos do trabalho médico, que a tecnologia não substituirá: o Raciocínio Clínico, a Empatia e a Humanidade. Para tudo isto, o tempo que damos ao nosso doente para nos contar a sua história, não pode ser espartilhado, com índices cegos de produção. Os gestores da saúde têm de valorizar o exercício de uma medicina de alto valor e encontrar formas de medir e auditar a qualidade assistencial.

O financiamento apenas baseado nos números, sejam eles de consultas, internamentos ou cirurgias, já é obsoleto.

É um bom desejo de ano novo, que isto mude. Será bom para a nossa saúde, e para as nossas finanças, que se analisem os resultados, onde se inclui a satisfação dos doentes.

COMENTAR

Please enter your comment!
Por favor, digite o seu nome

- PUB -

Os mais lidos

Oeiras realiza sessão de Capacitação em Gestão de Projetos

O Auditório da Biblioteca Municipal de Oeiras foi o local escolhido para receber no passado dia 6 de fevereiro uma sessão de Capacitação em...

Canábis medicinal: ISQ contribui para avanços na investigação

A Canábis medicinal tem ganho cada vez mais relevância no tratamento de diversas condições de saúde, devido aos benefícios terapêuticos comprovados pelos canabinóides que...

Filme ‘Breve Encontro’ no Templo da Poesia

Na véspera do Dia de S. Valentim, dia 13 de fevereiro, o filme ‘Breve Encontro’, de David Lean, será exibido no Templo da Poesia,...

Fundação Marquês de Pombal organiza 2ª edição de ‘Os Dias da Rádio’

A Fundação Marquês de Pombal organiza a 2ª edição de ‘Os Dias da Rádio’, a decorrer nos dias 13, 14 e 15 de fevereiro...

Comentários Recentes