“A Doença Renal Crónica (DRC) deve ser incluída como uma prioridade de saúde pública, havendo uma necessidade urgente de enfrentar o seu impacto devastador e promover uma abordagem preventiva e de diagnóstico precoce, capaz de contribuir para melhorar a gestão das doenças não transmissíveis.” Este é o ponto de partida de uma declaração conjunta de três sociedades médicas e da associação de doentes, que alertam para o impacto da DRC, sobretudo tendo em conta os dados do estudo CaReMe CKD, que confirma que a elevada prevalência desta doença em Portugal – cerca de 10% (1) – e reforça a necessidade de uma identificação precoce destes doentes.
A Associação Portuguesa de Insuficientes Renais, a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, a Sociedade Portuguesa de Nefrologia e a AstraZeneca unem as suas vozes num alerta para aquela que é atualmente a terceira causa de morte com crescimento mais rápido a nível global, esperando-se que se torne a quinta principal causa de anos de vida perdidos em todo o mundo até 2040, com implicações económicas e de saúde de longo alcance para o doente (2).
Motivos não faltam para falar no tema, como mostram os dados do relatório da análise à situação nacional feito pelo The Economist, que chama a atenção para a ausência, no País, de um conjunto de diretrizes de tratamento das doenças renais crónicas, salientando ainda que as que existem para deteção “são datadas e não estão alinhadas com as melhores práticas estabelecidas”. Mais ainda, o nosso país não enfatiza estas doenças em nenhuma política de saúde, sendo “inconsistentes as práticas para a sua deteção e cuidados”.
A mesma publicação fala ainda na necessidade de atualização dos registos nacionais, uma vez que o existente apenas recolhe dados sobre doentes nas fases finais da DRC; na necessidade da atualização das infraestruturas de saúde digital, consideradas insuficientes, “o que limita os conhecimentos que os investigadores, médicos e decisores políticos têm para melhorar a deteção e os cuidados” com a doença, ou ainda na urgência de aumentar a sensibilização para a DRC entre médicos de clínica geral e a população em geral, salientando a falta de literacia nesta área. E, reforça o relatório, “sem um conhecimento mais generalizado, é difícil encorajar a realização de exames e a prevenção”.
Este novo estudo, que avaliou a população de Matosinhos, aponta para uma prevalência desta doença na população portuguesa de 10%(1). O estudo RENA estima que mais de 20% da população que frequenta Cuidados de Saúde Primários apresente algum grau de doença renal crónica (3). E tendo em conta que existe uma relação entre DRC, diabetes e doenças cardiovasculares, “a criação de programas integrados para controlo de doenças não transmissíveis ao nível dos cuidados de saúde primários aumentariam ou fortaleceriam a identificação e intervenção precoces na DRC”, uma vez que a deteção precoce da DRC pode ajudar a reduzir o risco cardiovascular.
É por isso que pedem um aumento da sensibilização “sobre a prevenção, deteção precoce e gestão da DRC nos grupos de alto risco, como pessoas que vivem com diabetes, hipertensão e/ou outras doenças cardiovasculares”, assim como o fortalecimento de “medidas políticas, legislativas e regulatórias, destinadas a promover a deteção precoce da DRC e dos sistemas de saúde, “promovendo serviços de saúde primários integrados e centrados nas pessoas”.