Artigo de Opinião de Arsénio Santos, presidente da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF)
A obesidade é uma condição que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, tendo um impacto muito profundo na saúde, nomeadamente no que diz respeito ao fígado.
O fígado é um órgão vital que desempenha uma série de funções essenciais no corpo humano, incluindo o metabolismo de gorduras. No entanto, quando uma pessoa está acima do seu peso normal, o fígado fica sobrecarregado com o excesso de gordura, levando a uma condição conhecida como esteatose hepática. Esta condição é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura no fígado e pode ser um precursor de lesões hepáticas mais graves, como a esteatohepatite e a cirrose.
Quando o corpo acumula mais gordura do que aquela que pode metabolizar, o fígado é forçado a armazenar o excesso de gordura, o que pode levar à inflamação dos tecidos hepáticos. Com o tempo, isso pode evoluir para esteatohepatite, uma forma mais grave de doença em que à esteatose se associa inflamação do fígado. Se não for tratada, a esteatohepatite pode progredir para cirrose, uma condição na qual o tecido hepático normal é substituído por tecido cicatricial, resultando em danos irreversíveis do fígado e insuficiência hepática.
A gravidade da doença hepática pode aumentar se, além da obesidade, estiverem presentes outros fatores tais como diabetes e excesso de gorduras no sangue. Quando presentes, a ingestão de álcool e outros agressores – vírus da hepatite B ou C, por exemplo – tornam este quadro mais grave. Finalmente, a obesidade e a esteatohepatite aumentam o risco de cancro do fígado. Portanto, é fundamental reconhecer a obesidade como um fator de risco significativo para uma série de problemas de saúde hepática e adotar medidas eficazes para prevenir e tratar essa condição.
A boa notícia é que a obesidade é uma condição prevenível e tratável. É fundamental adotar estratégias de prevenção, nomeadamente a adoção de um estilo de vida saudável, que envolve uma dieta equilibrada, rica em frutas, vegetais e cereais integrais, juntamente com a prática regular de exercício físico. Além disso, é importante limitar o consumo de álcool, evitar o tabagismo e manter um peso corporal saudável.
A consciencialização pública desempenha um papel crucial na abordagem da obesidade e nas consequências para a saúde hepática. A aposta em programas educacionais e campanhas de sensibilização devem ser implementadas para destacar os riscos associados à obesidade e promover hábitos de vida saudáveis desde a infância.
Através de uma abordagem abrangente é possível reduzir a prevalência da obesidade e proteger a saúde do fígado.