Artigo de Opinião de Arsénio Santos, presidente da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF)
Estima-se que cerca de 8% a 10% dos portugueses tenham problemas do fígado. Embora seja a nona causa de morte em geral, destaca-se como a quarta causa principal de óbitos prematuros (antes dos 70 anos). O consumo de álcool emerge como o fator primordial por trás destes dados preocupantes.
O fígado é um órgão essencial do corpo humano, funcionando como centralizador da função digestiva, capaz de produzir e excretar a bílis e de metabolizar e armazenar parte dos nutrientes provenientes da absorção intestinal. A cada minuto, passam pelo fígado cerca de um a dois litros de sangue, representando 20% do consumo total de oxigénio do corpo humano. Até ao momento, não existem mecanismos artificiais de substituição eficazes para as funções hepáticas.
Este órgão desempenha inúmeras funções tais como a síntese de proteínas, enzimas e hormonas, o controlo dos níveis de glicose no sangue, a metabolização e excreção da bilirrubina e a metabolização e excreção de múltiplos compostos orgânicos endógenos (hormonas, proteínas, vitaminas) e exógenos (drogas/tóxicos, medicamentos).
À escala mundial, existem 1,5 mil milhões de pessoas com doenças hepáticas crónicas, que causam anualmente 2 milhões de mortes. A causa mais comum de doença hepática crónica é hoje em dia a doença hepática esteatósica (anteriormente conhecida como fígado gordo não alcoólico) mas as hepatites virais B e C são as maiores responsáveis pelas mortes relacionadas com doença do fígado que ocorrem no mundo. Contudo, em Portugal, o consumo excessivo de álcool é ainda o principal causador de morte por doença hepática.
As doenças hepáticas podem passar despercebidas porque o fígado não possui sensores de dor. Podem ser assintomáticas ao longo de anos ou acompanhar-se de sintomas inespecíficos, o que muitas vezes atrasa o diagnóstico. Enquanto isso acontece, a doença pode progredir, estando a evolução para quadros clínicos mais graves associada a problemas de saúde debilitantes, como a deterioração da função cerebral (encefalopatia hepática), hemorragias, pele e olhos com tonalidade amarela (icterícia), acumulação de líquido no interior da barriga (ascite), ou, até, cancro do fígado.
Mas é importante assinalar que mudanças simples no estilo de vida, como seguir uma dieta equilibrada, fazer exercício físico regular, rastreios regulares e a vacinação contra a hepatite B reduzem significativamente o risco de vir a ter uma doença hepática.
O Dia Mundial do Fígado, assinalou-se a 19 de abril, e tem por objetivo aumentar o conhecimento de todos nós sobre a saúde do fígado e sobre as possibilidades de prevenção das doenças hepáticas. A data é já sinalizada por um grande número de organizações internacionais, incluindo sociedades científicas e associações de doentes, que mobilizam esforços para consciencializar a população para a importância de cuidar da saúde do fígado, não só neste dia, mas durante todo o ano.