Entre 2015 e 2022, o preço da habitação subiu 90%, e nesse seguimento, seis em cada dez portugueses têm dificuldade em pagar as despesas com a casa. As conclusões são do barómetro da Fundação Francisco Manuel dos Santos sobre habitação.
Segundo aquele estudo, o aumento médio do preço das casas no país esconde fortes variações regionais e, aproximadamente uma em cada quatro pessoas condicionou os seus planos de vida por dificuldades no acesso à habitação.
“Mudar de localidade” é a decisão mais afetada, seguida de “sair de casa dos pais” e “viver sozinho(a)”. Os jovens são os mais penalizados, e adiaram ou desistiram dessas decisões.
Portugal é um dos países da União Europeia em que os jovens demoram mais a sair de casa dos pais, o que em média acontece aos 30 anos, segundo dados do Eurostat de 2022.
Mudar de casa não é uma opção frequente para a maioria dos portugueses, que em média estão na mesma casa há 20 anos. Um em cada nove vive na mesma casa desde que nasceu.
A maior parte das pessoas, 66%, vive em casa própria – quase metade ainda está a pagar empréstimos -, enquanto 19% da população vive em casa arrendada, um em cada seis sem contrato escrito. Ainda, uma em cada oito pessoas, ou seja, 13%, mora em casas cedidas ou herdadas.
Um pouco mais da metade dos inquiridos com casa própria já pagou a casa. Entre os que ainda não pagaram, a prestação média é de 523 euros mensais. Pagar os encargos com a casa não é fácil, seis em cada dez têm algum tipo de dificuldade em saldar as despesas com a habitação, e uma em cada nove tem medo de perder a casa nos próximos cinco anos.
Oito por cento dos portugueses paga menos de 200 euros pela habitação e apenas 1% paga mais de 1.500 euros mensais. Perto de 60% dos inquiridos pagam entre 201 e 600 euros e 13% entre 601 e 800 euros por mês. Em 2022, cerca de 56% recebia menos de 1000 euros e 30% o salário mínimo nacional, 705 euros (760 euros em 2023), de acordo com o Gabinete de Estratégia e Planeamento.
A falta de oferta de habitação é um dos principais fatores que explicam a crise no sector, de acordo com o barómetro da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Num ranking de seis causas principais, a “falta de regulação do mercado” (61%), o “baixo investimento público” (60%) e a “falta de casas disponíveis” (52%) são as razões mais apontadas pelos inquiridos.
Diminuir os impostos sobre a reabilitação urbana, acabar com os Vistos Gold e introduzir limites máximos às rendas são as políticas públicas mais populares entre os entrevistados.
Embora a maioria das pessoas esteja satisfeita com a casa onde vive, dois terços menciona a necessidade de fazer reparações e melhorias urgentes. No topo dos problemas aparece o isolamento (15%) e os problemas com infiltrações e humidade (11%).
O Barómetro da Habitação ouviu a opinião de 1086 pessoas – uma amostra representativa da população residente em Portugal -, e procurou responder a como e com quem vivem, quanto pagam de prestação ou renda, quais os principais medos e problemas e que medidas devem ser tomadas para facilitar o acesso à habitação.